Grupo estreia em março a montagem “Ovo”, que aposta na dramaturgia autoral e investe na pesquisa de novas formas de encenação pautadas na tradição
Para o Agon Teatro, grupo que há três anos desenvolve investigações sobre dramaturgia e encenação contemporânea em Londrina, teatro é trabalho artesanal. Após o longo período de estudos teóricos e na sala de ensaio, a trupe faz os ajustes finais do espetáculo de estreia, previsto para março. A montagem “Ovo” tem dramaturgia de Renato Forin Jr. e leva à cena, além dele, a atriz Danieli Pereira. Na trama, eles interpretam dois irmãos que escavam os sentimentos e tabus familiares no momento em que recebem a notícia da morte da mãe.
“É uma percepção apurada de que o tempo vai passando, vai varrendo as lembranças, as histórias e os próprios membros da família. O texto trabalha de forma lírica esses temas e propõe uma encenação em arena, para um público reduzido, o que facilita a proximidade com os espectadores”, explica o dramaturgo. De acordo com ele, a ideia é praticar a invenção formal, própria da linha contemporânea, sem perder a essência do teatro – o encontro, a reflexão, a efemeridade do gesto artístico.
Renato, doutorando em letras com ênfase em dramaturgia, e Danieli, bacharel em artes cênicas pela UEL, são fundadores do Agon. A proposta é manter-se como grupo de pesquisa permanente e trabalhar com artistas convidados. O formato, bastante praticado por outros coletivos brasileiros, permite ecletismo nas montagens e a possibilidade de atender às demandas estéticas de cada trabalho.
Em “Ovo”, espetáculo que tem patrocínio da Prefeitura de Londrina, por meio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), os atores contam com a orientação de direção de Marcio Abreu (da Companhia Brasileira de Teatro), criação sonora de José Carlos Pires Junior, desenho de luz de Maria Emília Cunha e figurino de Nathalia Oncken.
Sediado na Vila Usina Cultural, o Agon Teatro mantém uma rotina de ensaios e treinamentos baseados em linhas de força da tradição. “Para colocar em cena um texto como este, em que se põe em crise questões como os personagens e a própria fábula, precisamos mesclar ensinamentos dos grandes mestres e, de certa forma, atualizá-los, reinventá-los”, explica a atriz Danieli Pereira.
As incursões do grupo vão de influências realistas, baseadas no estudo da análise ativa de Stanislavski, a procedimentos da antropologia teatral, sistematizados por Eugenio Barba. Como matéria-prima para o treinamento, o Agon também busca constante formação em oficinas e workshops. Para a montagem que estreia em março, por exemplo, o grupo realizou trabalho de voz com o ator londrinense Guilherme Kirchheim, atualmente integrante do Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards (Itália).
Os integrantes do Agon destacam o desafio de produzir teatro num espaço de referência como Londrina. “Estamos em uma das cidades fundadoras da tradição de grupo no Brasil. Nomes como Proteu, Delta, Armazém, Cemitério de Automóveis, Boca de Baco e o mais recente Núcleo Às de Paus são, para nós, nortes e referências. Por isso, é sempre grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, prova de resistência encarar um trabalho assim. Muita coisa boa foi e é produzida por aqui”.
O espetáculo “Ovo” cumpre temporada de dez apresentações em Londrina nos meses de março e abril. Na sequência, o grupo tem intenção de seguir turnê por outras cidades.
e-Lectra Comunicação
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