sexta-feira, 24 de maio de 2013

100 anos de uma revolução

Ballet de Londrina comemora centenário de “A Sagração da Primavera” com apresentação gratuita no Moringão

     Os ecos de 29 de maio de 1913 ainda podem ser sentidos na arte contemporânea. Naquela noite em Paris, a barulhenta perplexidade do público não conseguiu encobrir o impacto histórico da música de Igor Stravinsky e da coreografia de Vaslav Nijinsky na estreia de “A Sagração da Primavera”. Os dois romperam com valores conservadores e fizeram da obra um marco estético que escancarou as portas do mundo para a modernidade.

        
Foto Valéria Felix
O Ballet de Londrina celebra esta data fundamental, 100 anos depois, com a versão do diretor Leonardo Ramos para “A Sagração da Primavera” numa apresentação aberta ao público. O grupo londrinense ocupa o Ginásio de Esportes Moringão nesta quarta-feira (29), às 20 horas.

Trata-se de uma dupla comemoração: primeiro, pela importância histórica do centenário; em segundo lugar, pelos 20 anos do Ballet de Londrina - aniversário festejado ao longo de 2013. O local escolhido também não é fortuito. É a primeira vez que a companhia - que já se apresentou em vários espaços alternativos da cidade - dança no Moringão. O plano inclinado da arquibancada deve permitir ampla visualização do palco montado na cancha e favorecer a linguagem coreográfica do grupo, feita de movimentos muito horizontais, colados ao chão.

Leonardo Ramos completa que é sempre instigante levar a dança contemporânea para diversos públicos e para diferentes locais. Nesta apresentação, o desafio será manter a delicadeza e o impacto de determinados momentos em um ambiente “onde a concentração é outra e a dispersão é maior”. O início do espetáculo, por exemplo, tem quatro minutos de absoluto silêncio, antes dos primeiros acordes de Stravinsky. “Vamos encená-la no Moringão com uma nova consistência. Mudamos alguns volumes no processo, pois algumas pessoas assistirão a muitos metros do palco, é uma outra forma de ver”, explica.

Foto Isabela Figueiredo
Por suas especificidades, “A Sagração da Primavera” exige um estudo continuado. Leonardo explica a necessidade de exatidão e rigor na execução coreográfica por parte dos bailarinos, justamente pela complexidade da música. “Queremos ser como um coral, dentro de um projeto em grupo, em que a personalidade de cada um contribua para a integração do todo”. Essa ideologia garante a qualidade e a renovação de uma companhia que agrega, num mesmo elenco, bailarinos veteranos ao lado de jovens estreantes. 

O público que comparecer no Moringão poderá vê-los realizar uma das mais pungentes coreografias do Ballet de Londrina, permeada de quedas, embates e movimentos horizontais que exigem uma nova lógica de apoio e locomoção para o elenco. O enredo de “A Sagração ...” ainda é o mesmo da obra centenária que chocou a Europa: descreve o percurso doloroso de um virgem, eleita num ritual pagão para ser sacrificada. Sua vida é oferecida aos deuses para o florescimento da terra durante a primavera, numa metáfora para os ciclos da natureza que sufocam e extinguem os mais frágeis em prol da força coletiva. Ramos dedica sua versão contemporânea às mulheres, como “símbolo de todas as minorias”.

“A Sagração da Primavera” da companhia paranaense estreou em 2011 e, desde então, circulou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. No exterior, foi encenada no XXIV Festival Internacional Danza Nueva, em Lima, Peru. No mês de abril, o grupo, vencedor do Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna 2012, realizou turnê de 26 dias pelo Nordeste. A montagem marca a maturidade do Ballet na consolidação de uma linguagem específica em dança e um desafio para a trajetória de Leonardo Ramos.

“É como se eu fosse um escultor e tivesse trabalhando o mármore mais raro do mundo”, compara ele, sobre a experiência de coreografar uma obra tão emblemática e revisitada por criadores do quilate da alemã Pina Bausch (1975), do francês Maurice Béjart (1959) e da americana Martha Graham (1984). “Fazer a Sagração era vencer um enorme desafio, mexer em algo grandioso. Quando a coreografia estava ficando pronta, sentimos que estávamos conseguindo chegar no ponto do seu valor intrínseco. A sensação era de dever cumprido”.

Há exatos 100 anos – Diz-se que o modernismo nasceu naquela noite de estreia de “A Sagração da Primavera” no Théâtre des Champs-Élysées, em Paris. O obra fora criada pela companhia Ballets Russes - um dos grupos de balé mais famosos da história - e recebida pela burguesia conservadora como um escândalo. De fato, música e dança propunham um definitivo rompimento com a tradição que imperava na Europa. Já no prelúdio concebido por Igor Stravinsky, burburinhos e risadas anunciavam a balbúrdia dos instantes seguintes.


A partitura subordinava melodia e harmonia ao ritmo. Seu andamento era assimétrico e complexo, com acentos perturbantes. O discurso sonoro, com intencionalidade dramática, aproximava-se de ruídos, na medida em que enfatizava percussões e repetições. Na dança, Nijinsky igualmente inovava ao introduzir tremores, espasmos e contorções na sequência dos dançarinos, que também golpeavam com os pés um palco acostumado à leveza das sapatilhas. Tudo somado, a plateia dividiu-se entre vaias ensurdecedoras e aplausos frenéticos.

A obra, geralmente comparada a um “terremoto” ou um “vulcão” estético, sacudiu as estruturas sociais. Na exposição da barbárie de um rito primitivo de morte, os criadores reproduziam os sons e os movimentos de um mundo que adentrava o contexto urbano e sua igual selvageria. Na iminência da Primeira Grande Guerra, houve um presságio em forma de arte. Otto Maria Carpeaux, em sua “Nova História da Música”, escreve que “às vésperas das grandes catástrofes, [‘A Sagração da Primavera’] as pressentiu sem ainda temê-las, por falta de experiência”. E completa: “Continua obra difícil, perigosa, experimental até hoje”.
Renato Forin Jr. / Assessoria de Imprensa Ballet de Londrina



 Serviço:
A Sagração da Primavera – 100 anos
Ballet de Londrina
Dia 29 de maio (quarta-feira)
Às 20 horas
No Ginásio de Esportes Moringão
(Rua Gomes Carneiro, 315)
Gratuito

Ficha técnica
A Sagração da Primavera
Criação e direção: Leonardo Ramos
Música: Igor Stravinsky
Execução: Amsterdam Piano Quartet
Figurino: Ana Carolina Ribeiro
Iluminação/Cenografia: Felipe Chepkassoff
Elenco principal: A Virgem: Viviane Terrenta

Direção Geral/coreografo: Leonardo Ramos
Direção de produção: Danieli Pereira
Direção Técnica: Roberto Rosa
Ensaiador: Marciano Boletti
Assessoria de imprensa: Renato Forin Jr.
Designer gráfico: João Damiano
Web: Claudio de Souza
Elenco:                          
Alessandra Menegazzo
Bruno Calisto
            Claudio de Souza
Giovana Machado
José Maria
José Ivo
Kamila Oliveira
Marciano Boletti
Nayara Stanganelli
Thiago Spengler
Viviane Terrenta
Vitor Rodrigues



Nenhum comentário:

Postar um comentário