Ballet
de Londrina comemora centenário de “A Sagração da Primavera” com apresentação
gratuita no Moringão
Os ecos de 29 de maio de 1913 ainda
podem ser sentidos na arte contemporânea. Naquela noite em Paris, a barulhenta perplexidade
do público não conseguiu encobrir o impacto histórico da música de Igor
Stravinsky e da coreografia de Vaslav Nijinsky na estreia de “A Sagração da
Primavera”. Os dois romperam com valores conservadores e fizeram da obra um
marco estético que escancarou as portas do mundo para a modernidade.
Foto Valéria Felix |
Trata-se
de uma dupla comemoração: primeiro, pela importância histórica do centenário;
em segundo lugar, pelos 20 anos do Ballet de Londrina - aniversário festejado
ao longo de 2013. O local escolhido também não é fortuito. É a primeira vez que
a companhia - que já se apresentou em vários espaços alternativos da cidade - dança
no Moringão. O plano inclinado da arquibancada deve permitir ampla visualização
do palco montado na cancha e favorecer a linguagem coreográfica do grupo, feita
de movimentos muito horizontais, colados ao chão.
Leonardo
Ramos completa que é sempre instigante levar a dança contemporânea para diversos
públicos e para diferentes locais. Nesta apresentação, o desafio será manter a delicadeza
e o impacto de determinados momentos em um ambiente “onde a concentração é
outra e a dispersão é maior”. O início do espetáculo, por exemplo, tem quatro
minutos de absoluto silêncio, antes dos primeiros acordes de Stravinsky. “Vamos
encená-la no Moringão com uma nova consistência. Mudamos alguns volumes no
processo, pois algumas pessoas assistirão a muitos metros do palco, é uma outra
forma de ver”, explica.
Foto Isabela Figueiredo |
Por
suas especificidades, “A Sagração da Primavera” exige um estudo continuado.
Leonardo explica a necessidade de exatidão e rigor na execução coreográfica por
parte dos bailarinos, justamente pela complexidade da música. “Queremos ser
como um coral, dentro de um projeto em grupo, em que a personalidade de cada um
contribua para a integração do todo”. Essa ideologia garante a qualidade e a
renovação de uma companhia que agrega, num mesmo elenco, bailarinos veteranos ao
lado de jovens estreantes.
O
público que comparecer no Moringão poderá vê-los realizar uma das mais
pungentes coreografias do Ballet de Londrina, permeada de quedas, embates e
movimentos horizontais que exigem uma nova lógica de apoio e locomoção para o
elenco. O enredo de “A Sagração ...” ainda é o mesmo da obra centenária que
chocou a Europa: descreve o percurso doloroso de um virgem, eleita num ritual pagão
para ser sacrificada. Sua vida é oferecida aos deuses para o florescimento da
terra durante a primavera, numa metáfora para os ciclos da natureza que sufocam
e extinguem os mais frágeis em prol da força coletiva. Ramos dedica sua versão
contemporânea às mulheres, como “símbolo de todas as minorias”.
“A
Sagração da Primavera” da companhia paranaense estreou em 2011 e, desde então,
circulou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba.
No exterior, foi encenada no XXIV Festival Internacional Danza Nueva, em Lima,
Peru. No mês de abril, o grupo, vencedor do Prêmio Funarte Petrobras de Dança
Klauss Vianna 2012, realizou turnê de 26 dias pelo Nordeste. A montagem marca a
maturidade do Ballet na consolidação de uma linguagem específica em dança e um
desafio para a trajetória de Leonardo Ramos.
“É
como se eu fosse um escultor e tivesse trabalhando o mármore mais raro do
mundo”, compara ele, sobre a experiência de coreografar uma obra tão
emblemática e revisitada por criadores do quilate da alemã Pina Bausch (1975),
do francês Maurice Béjart (1959) e da americana Martha Graham (1984). “Fazer a
Sagração era vencer um enorme desafio, mexer em algo grandioso. Quando a
coreografia estava ficando pronta, sentimos que estávamos conseguindo chegar no
ponto do seu valor intrínseco. A sensação era de dever cumprido”.
Há exatos 100 anos – Diz-se
que o modernismo nasceu naquela noite de estreia de “A Sagração da Primavera”
no Théâtre des Champs-Élysées, em Paris. O obra fora criada pela companhia Ballets Russes - um dos grupos de balé
mais famosos da história - e recebida pela burguesia conservadora como um
escândalo. De fato, música e dança propunham um definitivo rompimento com a
tradição que imperava na Europa. Já no prelúdio concebido por Igor Stravinsky,
burburinhos e risadas anunciavam a balbúrdia dos instantes seguintes.
A
partitura subordinava melodia e harmonia ao ritmo. Seu andamento era
assimétrico e complexo, com acentos perturbantes. O discurso sonoro, com intencionalidade
dramática, aproximava-se de ruídos, na medida em que enfatizava percussões e
repetições. Na dança, Nijinsky igualmente inovava ao introduzir tremores,
espasmos e contorções na sequência dos dançarinos, que também golpeavam com os
pés um palco acostumado à leveza das sapatilhas. Tudo somado, a plateia
dividiu-se entre vaias ensurdecedoras e aplausos frenéticos.
A
obra, geralmente comparada a um “terremoto” ou um “vulcão” estético, sacudiu as
estruturas sociais. Na exposição da barbárie de um rito primitivo de morte, os
criadores reproduziam os sons e os movimentos de um mundo que adentrava o
contexto urbano e sua igual selvageria. Na iminência da Primeira Grande Guerra,
houve um presságio em forma de arte. Otto Maria Carpeaux, em sua “Nova História
da Música”, escreve que “às vésperas das grandes catástrofes, [‘A Sagração da
Primavera’] as pressentiu sem ainda temê-las, por falta de experiência”. E
completa: “Continua obra difícil, perigosa, experimental até hoje”.
Renato Forin
Jr. / Assessoria de Imprensa Ballet de Londrina
Serviço:
A Sagração da Primavera – 100 anos
Ballet de Londrina
Dia
29 de maio (quarta-feira)
Às
20 horas
No
Ginásio de Esportes Moringão
(Rua
Gomes Carneiro, 315)
Gratuito
Ficha técnica
A
Sagração da Primavera
Criação e direção: Leonardo
Ramos
Música: Igor Stravinsky
Execução: Amsterdam
Piano Quartet
Figurino: Ana
Carolina Ribeiro
Iluminação/Cenografia: Felipe
Chepkassoff
Elenco principal: A Virgem: Viviane
Terrenta
Direção Geral/coreografo: Leonardo Ramos
Direção de produção: Danieli
Pereira
Direção Técnica: Roberto
Rosa
Ensaiador: Marciano
Boletti
Assessoria
de imprensa: Renato Forin Jr.
Designer gráfico: João
Damiano
Web: Claudio de Souza
Elenco:
Alessandra
Menegazzo
Bruno
Calisto
Claudio de Souza
Claudio de Souza
Giovana
Machado
José Maria
José Ivo
Kamila Oliveira
Marciano Boletti
Nayara Stanganelli
Thiago
Spengler
Viviane
Terrenta
Vitor Rodrigues
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